O mundo das meias perdidas

Ema Flores e Davide Fernandes

- São como os buracos das meias, avô? – perguntei agora.

O avô não respondeu logo. Ele olhou para além de mim, mas desta vez eu já sabia que não vinha ninguém lá além.

- Sabes, tens razão. A meia tem cicatrizes de cada vez que a avó as cose, e as nossas cicatrizes foram primeiro um buraco também. E às vezes, também nos perdemos, como as meias. Vamos pelo mundo das meias perdidas, meio perdidos.

- O mundo das meias perdidas?

- Ah, pois é. Para onde achas que elas vão?

- Não sei, estão perdidas. Eu não sei onde estão as coisas que perco...

- Mas isso não quer dizer que não estejam algures, algures elas têm de estar. E as meias, elas têm um mundo próprio, uma viagem sem outra igual, antes de voltarem a casa. E quando voltam, já não são iguais à meia que ficou à sua espera. Mas, por muito diferentes que elas voltem, continuam a ser o seu par. E isso é que é bonito na viagem das meias, e nas viagens dos crescidos, podermos voltar diferentes, mas o nosso lugar mantém-se.

Utilizamos cookies próprios e de terceiros para lhe oferecer uma melhor experiência e serviço.
Para saber que cookies usamos e como os desativar, leia a política de cookies. Ao ignorar ou fechar esta mensagem, e exceto se tiver desativado as cookies, está a concordar com o seu uso neste dispositivo.